Saúde

Praticas de saúde alternativas estão na rede SUS em Pelotas

Métodos de tratamento não medicamentosos auxiliam na diminuição de dores e dos transtornos psicológicos

Gabriel Huth -

Em busca de uma saída para os tratamentos medicamentosos de doenças crônicas, as Práticas Integrativas Complementares (PICs) do Sistema Único de Saúde (SUS) integram a vida dos pacientes como uma solução alternativa em meio aos cuidados contra os agravos das enfermidades e pela recuperação da saúde. Em Pelotas, desde o último ano a Rede Bem Cuidar - instalada em seis Unidades Básicas de Saúde (UBSs) - implementa algumas das 29 atividades listadas pelo Ministério da Saúde. Na UBS Virgílio Costa, no bairro Fragata, a auriculoterapia foi implementada há um mês. Apesar das poucas sessões de tratamento, os moradores atendidos já relatam mudanças positivas no dia a dia.

"É um momento tu e a tua sementinha", conta uma das participantes das atividades. Denise Alves, 41, começou a auriculoterapia para enfrentar a obesidade, a depressão e a ansiedade. Após três semanas de tratamento, o sorriso que leva no rosto expressa os resultados. "Diminuiu minha fome e me sinto muito mais calma desde que comecei", relata. O método com pequenas sementes de mostarda é uma das PICs ofertadas pelo SUS - o principal foco são as doenças crônicas e psicológicas, como hipertensão e depressão. Com origens na medicina chinesa, a atividade utiliza-se de pontos específicos do pavilhão auricular. Como explica a enfermeira responsável, Maria Fernanda Espíndola, todas as regiões e os órgãos do corpo humano estão representados na orelha, como se essa parte do corpo fosse um feto em posição ao contrário, de cabeça para baixo.

Entre as cerca de 15 pacientes que participam toda semana dos encontros às quintas-feiras pela manhã, os resultados são semelhantes aos de Denise: as dores diminuíram, o sono ficou mais tranquilo e, consequentemente, os remédios ficaram de lado. Por mais que as práticas sejam uma solução alternativa e secundária ao tratamento medicamentoso, muitos dos atendidos gradativamente reduzem o uso. Como é o exemplo da Lurdes Nunes, 59, que passou aproximadamente um ano ingerindo diariamente remédios para as fortes dores na coluna e nos braços. A enfermidade atrapalha, ainda, as tarefas de cuidados com a própria casa e afazeres da rotina. "Agora eu estendo as roupas no varal e nem sinto nada", ela explica.

Os laços de afeto e cuidado construídos entre as pacientes e as enfermeiras são um dos frutos da instalação das PICs na casa de saúde. Quando perguntada sobre a relação que surgiu em um mês de trabalho, Maria Fernanda se emociona e enche os olhos de lágrimas de alegria. "É muito gratificante ver a melhora de vida delas", afirmou. E o relato dela é reforçado pelas participantes: Evelise Alves frisou a importância da iniciativa. "A gente se sente menos excluído recebendo essa oportunidade aqui no bairro."

A auriculoterapia foi incorporada na UBS da Rede Bem Cuidar depois da enfermeira responsável participar de um curso ofertado em todo o Estado pelo Ministério da Saúde. Para a coordenadora da rede, Aline Geppert, o intuito é de multiplicar o conhecimento, visto que as demais profissionais não participaram das aulas. Assim, Maria Fernanda já construiu um manual próprio sobre a prática alternativa e repassa as técnicas de aplicação da semente de mostarda às demais colegas. A pretensão da coordenadora é que as outras UBSs também ofereçam o serviço gratuito.

Boas energias
O reiki é uma das PICs oferecidas no SUS em Pelotas desde agosto de 2018. A UBS Guabiroba foi a primeira unidade a receber o tratamento alternativo. Hoje, o método atende grupos de idades diversas, tanto jovens quanto idosos. Conforme descreve uma das aplicadoras da terapia holística, Vanessa de Sousa, a maioria dos pacientes possui transtornos psicológicos, como depressão. Junto da troca de energias pelas mãos, a aromaterapia e a cromoterapia são outras duas opções oferecidas aos pacientes. A primeira, consiste na utilização de propriedade dos óleos essenciais concentrados a fim de recuperar o equilíbrio e a harmonia do organismo; já a segunda, faz o uso das cores (através das lâmpadas coloridas) para curar doenças e restaurar o equilíbrio físico e emocional.

Na unidade básica são três agentes de saúde especializadas no reiki, caracterizado pela imposição das mãos para promover a mudança de energias e alinhar os chacras. Muitas vezes, as trocas enérgicas podem ser prejudiciais aos aplicadores, que absorvem sensações ruins. Para prevenir essas situações, Débora Moraes, enfermeira aplicadora, conta que o preparo antes do contato com o paciente é essencial; a limpeza do ambiente é uma das ações. E o resultado é benéfico para os dois lados. "Acaba que a gente sempre recebe tudo em dobro", conta.

Enquanto ocorrem as sessões, os pacientes conversam com as enfermeiras e acabam trocando informações que não contam aos médicos da UBS. Nessas ocasiões, entra o cuidado integrado da equipe. Assim como na auriculoterapia, os participantes acabam deixando de lado os tratamentos medicamentosos. Vilma Santos de Almeida conta que depois que começou "os remédios ficaram na prateleira. (...) Eu me sinto renovada, como se tivesse ganhado anos de vida". Antes de iniciar o reiki, ela ingeria os medicamentos com foco na diminuição das dores no corpo várias vezes ao dia.

Mesmo com os avanços e a procura dos moradores do bairro em relação ao serviço, as enfermeiras responsáveis contam que a chegada da atividade foi recebida com certo receio. "Eles pensavam que era algo religioso", diz a enfermeira Caroline Madeira. A saída encontrada foi organizar uma demonstração durante o mês de outubro, ao longo das atividades do Outubro Rosa coordenadas pela prefeitura. Naquele momento, a comunidade pôde ter o primeiro contato com a prática e mais de 40 pessoas foram atendidas.


Novos horizontes
Além do manual de auriculoterapia, feito pela Maria Fernanda, o objetivo da Rede Bem Cuidar é encontrar outras formas de expandir os conhecimentos sobre as PICs. Segundo a coordenadora da rede, a ideia de implementação surgiu a partir de uma demanda dos próprios moradores. A UBS da Guabiroba foi pioneira na iniciativa, partindo de lá as ações que começam a se expandir pelo município. O curso de reiki já foi iniciado entre os profissionais que atuam na UBS Simões Lopes. As próximas a receberem a capacitação são as unidades da Vila Nova e da Sanga Funda. A expectativa é de que em cerca de dois meses a população dos bairros tenha acesso aos serviços.

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